quinta-feira, novembro 16, 2006

O pacífico sul da vida(II)

Lembra-se de acordar com uma sensação estranha, parecia que algo estava certo na sua vida, sentia uma força natural que lhe dizia que nesse dia tudo lhe ia correr bem. Tinha andado a estudar os movimentos em torno de um banco local e preparava uma já natural operação de furto em desfavor de toda a gente que ali depositava o dinheiro recebido no final do mês.

Saiu bem cedo de casa e seguiu para o habitual local de pequeno-almoço, sempre o famoso croissant de chocolate acompanhado por um café exta forte, era o de sua eleição. Tudo parecia relativamente normal, tudo parecia igual aos outros dias não fosse aquela estranha sensação ao acordar...

Ele bem a tentou ignorar, mas quando ela entrou pela porta da frente do café tudo pareceu certo, tudo passou a fazer sentido, e num acto irreflectido de memórias lembrou-se de todos os acontecimentos que o tinham levado até aquele local, lembrou-se de todos os factos que faziam com que naquele momento ele estivesse sentado a uma mesa numa cidade desconhecida no pacífico sul.

Em circunstâncias normais, mekere teria sido naturalmente tímido, teria continuado a comer o seu croissant tentando ignorar aqueles impulsos mais atrevidos que o procuravam levantar da mesa e meter conversa. Esta não era uma circunstância normal, não podia ser, não deixaria ser.

Levantou-se da sua mesa, pediu um café e um dos seus favoritos croissants no balcão e segurando um com cada mão aproximou-se daqueles olhos intemporais, “Gostava de lhe oferecer o pequeno-almoço, por favor aceite que quem me lançou neste mundo tinha este objectivo”.

Seria uma frase de engate desgastada e várias vezes utilizada por um qualquer “engatão desbarato” se não tivesse sido apenas a descrição do que sentia naquele exacto momento. Era uma frase com chances de apenas 1 em 1 milhão de resultar.

Tudo mudou, o limiar entre a vida ganha com golpes de natureza baixa e uma vida de honestidade foi ultrapassado assim que Mekere viu a beleza natural daquele pequeno-almoço sorrir-lhe enquanto provava o chocolate do pacífico sul da vida.

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