Pássaro esfomeado
O pássaro foi visto a passar na avenida principal. Foi visto a comer pedaços de pão dados por um velho compreendedor da natureza de ser pássaro. Foi visto no meio da praça, a bicar as sardinhas e os carapaus acabados de tirar da carrinha.
Bicou quase tudo o que era peixe, mas nunca tocou no salmão, provavelmente não gostava de salmão.
A coitada da peixeira viu o pássaro a estragar-lhe o peixe, enxutou-o uma.duas vezes. Desgraçado do pássaro não deixava o peixe, sempre a levar com o jornal e sempre a voltar ao mesmo sítio qual mosca irritante. Só deixou a comida quando se fartou, até lá parece ter andado a gozar com a dona da banca.
Desgraçada da peixeira que já nem podia ver o afoito animal à sua frente, tanto que quando o almoçado pássaro acabou a sua bela refeição e saiu lentamente da praça, a peixeira desesperada permaneceu em guarda da sua banca, sempre atenta aos movimentos do vândalo não fosse ele tentar nova investida. Nunca percebeu a peixeira, que o animal bicou até não ter mais fome, e lá ficou ela, em volta da banca, com cara de poucos amigos.
Joana não sentiu qualquer dor, era quase como se a bicada tivesse sido uma qualquer manifestação de carinho por parte do animal.
Passado um pouco lembrou-se.
O seu pai também nunca gostou de salmão.
E riu-se.
1 Comments:
TÃO querido!!
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