Desconhecidos de gosto semelhante.
Rodrigo foi aquele tipo de rapaz que sempre se deu muito com as pessoas, mantinha longas conversas com adultos do dobro e triplo da sua idade e nunca deixava má imagem, ficava-se sempre com a sensação que tinha bons princípios, boa mente e bom coração. Era muito provavelmente um “tipo” às direitas, apesar da tenra idade de 19 anos.
Ela chama-se Sofia Madureira. Moça para 21 anos (mais 2 que Rodrigo portanto), sempre foi muito chegada à pouca família que tinha. Nascida e crescida em Lisboa, criada pela avó (um pouco à semelhança de Rodrigo) e adepta confessa de leitura e escrita, sempre foi seu sonho ser escritora. Não precisava de ser uma escritora conhecida, bastava que escreve por prazer.
Sofia foi sempre o tipo de pessoa que se contentava com pouco e que com esse pouco conseguia sempre emanar segurança e felicidade em tudo o que fazia. Era também muito parecida com a avó, tanto em aparência como em maneira de ser. Pareciam como que clones uma da outra e eram separadas por 40 anos de diferença.
Havia logo à entrada da casa de Sofia duas fotos que comprovavam esta parecença, fotos essas objectos de brincadeiras feitas a visitantes levados a pensar que as caras nas fotos eram de uma e da mesma pessoa.
Numa tarde quente, Sofia e Rodrigo por fruto de mero acaso, coincidiram no café que escolheram como seu eleito para o desejado café da manhã. Nenhum dos dois tinha ali estado antes e tinham sido muito provavelmente atraídos pelo cheiro a pão acabado de fazer que invadia as ruas junto do estabelecimento.
Rodrigo chegou primeiro, havia apenas uma mesa de dois lugares livre em todo o café, reparando nesse facto depressa se sentou e chamou o empregado. O habitual para a sua boca foi pedido e instantes depois estava servido e pronto para acompanhar o pequeno almoço com um belo livro comprado na véspera.
Sofia chegou uns 10 minutos mais tarde, entrou no café e olhou em redor, nem uma mesa livre, nem sequer no balcão sobrava um banco onde pudesse pousar a sua encantadora fisionomia. Preparava-se já para sair, quando reparou num lugar livre numa mesa de duas pessoas, pensou para si se o jovem que estava aí sentado se importaria de a partilhar, ainda por cima estando a ler era provável que não se importasse, resolveu tentar a sorte.
-Desculpe, bom dia!
Rodrigo de imediato espreitou por cima do livro acenando simpaticamente com a cabeça.
-Bom dia!
-Será que seria possível acompanhá-lo ao pequeno almoço? Não precisa de falar comigo, eu trago um livro como o senhor e por isso nem sequer farei muito barulho.
- Com certeza que não me importo, faça favor de se sentar, é servida de café?
Ao café juntou o seu pedido e rapidamente como forma de facilitar a integração na mesa, retirou da mala o livro que ultimamente lhe tomava os tempos livres.
Sofia apercebeu-se pouco depois e lançou no ar forte exclamação seguida de um riso controlado mas puramente instintivo...
- Gosta desse livro? – Perguntou numa espécie de desafio.
- Tanto como a senhora gosta do seu tenho a certeza! – Respondeu Rodrigo empatando o desafio.
Não perdeu a esperança, e durante toda aquela semana, tomou o pequeno almoço na mesma mesa, com o mesmo livro. A companhia nunca apareceu, e ele por fim conformou-se.
- Bom dia! Gostou do fim do livro?
1 Comments:
sensacional! =) e o mais engraçado é que é uma situação possível. improvável - talvez, mas possível.
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