O carro verde
Estamos em 1990 nos campeonatos europeus de natação, André Santos é anunciado como o nadador da pista 6 perto do centro da piscina, vizinhos da sua pista são o campeão e o vice-campeão daquela mesma competição há 4 anos atrás.
André está nervoso, mal cabe em si na forma entusiasta como espera pelo tiro da partida, entre o momento em que sobe para o cubo de partida e o mergulho como que dá início aos 100 metros bruços André relembra-se de todas as eliminatórias anteriores que o levaram à meia-final em que se encontra. Se ficasse nos 4 primeiros lugares iria disputar a final, bastava chegar logo a seguir aos seus vizinhos e teria garantido um lugar nos 10 melhores europeus, o sonho estava mesmo ali à espreita.
A sua mãe sabia disso e serviu-se desse mesmo factor para iniciar o seu filho na natação. Inicialmente prometeu-lhe um carrinho desses se conseguisse atravessar a piscina em largura (o que seriam à volta de 6 metros) nadando de braçadeiras, de seguida serviu-se exactamente da mesma recompensa para fazer com que André fizesse a mesma distância mas desta vez sem braçadeiras. Prometido e feito, André começou a nadar tendo como objectivo uma maravilhosa colecção de modelos em escala reduzida das grandes “bombas” daqueles tempos.
Passou toda a sua adolescência a faze-lo, durante o Inverno na piscina do campo grande em Lisboa, durante o verão na casa de férias dos seus avós perto de Lourinhã.
Ninguém o parou desde aí, e do vício passou à competição numa questão de 2 ou 3 anos, primeiros os campeonatos regionais, depois os nacionais e agora finalmente o seu grande sonho, os europeus e a remota mas comovedora hipótese de uma ida aos jogos olímpicos.
Foram aparecendo um a um os classificados, o primeiro era um tal campeão de Europa seguido de perto por um vice-campeão, depois para seu espanto apareceram mais uns quantos nomes, deste o turco da pista 1 até ao alemão da pista 7, todos pareciam aparecer antes do seu nome e quando deu pelo fim lá estava:
“André Santos –PORTUGAL-8º”
Procurou uma explicação por várias vezes, mas apenas conseguiu chegar a uma e sempre que o questionavam sobre aquele dia ele respondia a mesma coisa:
-“A culpa é da Jaguar, não tivessem eles feito um carro verde…”
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