terça-feira, novembro 07, 2006

Almas que vão.

Para se distrair do infeliz embate, o inaudito condutor foi, como era timbre dos homens da sua época, desafogar as mágoas ao bordel do bairro onde fornicou candidamente a primeira que a “puta velha” lhe tinha vendido. Veio-se, pagou e foi-se. Nem perguntou o nome, encravando o seu sexo por entre as pernas brancas de uma mulher que tempos teria sido linda. Eduarda, que tinha vindo parar à rua porque o vício lhe levou a vida de estudante que tanto almejava. Felizmente, já tinha deixado a merda mas um filho-da-puta qualquer trocou uma dose por um ser humano. E ela não podia sustentar o Carlinhos sem ser de outra maneira senão a vender o corpo. Eduarda até já nem se importava, já que tudo fazia para manter feliz na santa ingenuidade o futuro jogador de futebol (Eduarda achava que só assim o filho poderia evitar uma vida de merda).

Baptizada num ambiente católico apostólico romano, mal tinha saboreado a boca imberbe do seu vizinho da frente quando foi violada no seu intimo pela morte macabra da sua alma, quando viu o padre a comer a madre em cima do altar que todos os santos domingos servia para dar graças ao senhor e exaltar as virtudes da fé em Deus. Achou que o que tinha visto seria o que o povo chama “tudo ao molho”. Eduarda desde de cedo que se habituou a ter sexo sem amor. Aliás, amor, amor…só conhecia o que tinha por Carlinhos, esse menino cujo sorriso lhe enchia a vida e a já de morte macabra morrida alma. Quando saiu do bordel naquela noite, Eduarda chegou a casa e preparou tudo para deitar o miúdo. Vinha a sentir violada por aquele tipo, mais rude que os outros, mas o bebé teve a feliz certeza do primeiro riso. Sorriu, Sorriu, Sorriu. E Eduarda ficou feliz.

Dois meses depois descobriu que ele, ou outro qualquer filho-da-puta lhe tinha dado mais do que ela pedia: o pior medo de qualquer prostituta. Quando teve a certeza do resultado do exame, e enquanto via o filho a sorrir desalmadamente, foi a farmácia, sacou duas embalagens de Prozac, e utilizou uma para cada um. E há quem ache que foi um acto de amor.
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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Almas que vão... Foram almas que, de certo, vieram resgatar alguma coisa do passado. Explicar é dificil, mas continuar é preciso. Nao creio que o fim seja amor. Amor é sempre recomeço, é tentativa, é vida!!!!

11:47 da tarde  

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